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O DESCONTENTAMENTO MILITAR


Vista da Escola Militar da Praia Vermelha, Rio de Janeiro.
Museu Histórico Nacional.


Duque de Caxias, chefe do exército brasileiro.

O DESCONTENTAMENTO MILITAR

Com a vitória na Guerra do Paraguai, em 1870, o Exército, que antes tinha menor prestígio que a Guarda Nacional, ganhou importância política. O seu efetivo foi aumentado e os equipamentos aperfeiçoados. Isso não impediu que a oficialidade passasse a contestar as estruturas político-sociais do Império. Em contato com tropas compostas em grande parte por negros, os oficiais se ressentiam da situação do Brasil no contexto dos demais países, pois era a única nação independente da América a manter a escravidão. A oficialidade começou a adotar então uma posição antiescravista e republicana.

Um dos fatores que facilitaram a disseminação das idéias abolicionistas no meio dos oficiais foi a mudança na composição social do Exército. Até 1850, os filhos das elites proprietárias de escravos dedicavam-se à carreira militar. Nas décadas seguintes, devido à baixa remuneração, os oficiais passaram a ser filhos de burocratas ou militares que não possuíam cativos. A maioria da oficialidade era originária de famílias tradicionais em declínio do interior do Nordeste e do Rio Grande do Sul, região onde havia um grande contingente militar devido aos inúmeros conflitos fronteiriços. Essas alterações provocaram um afastamento dos oficiais das elites políticas do Império, principalmente dos bacharéis formados nas Faculdades de Direito. Estes eram considerados pelos militares exemplos da corrupção e obstáculos ao crescimento econômico do país. O estabelecimento da Escola Militar na Praia Vermelha, em 1858, facilitou a maior coesão entre os cadetes, futuros oficiais, e aumentou a rejeição às elites civis. O Clube Militar, fundado em 1887, tornou-se um órgão para defender os interesses dos militares. Existia, portanto, um verdadeiro abismo, no final do Império, entre os militares e as elites governamentais.

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CONFLITO IGREJA E IMPÉRIO


D. Pedro II possuía meios para interferir nos assuntos da Igreja. Em 1872, ocorreu o primeiro conflito religioso do Império.
Museu Histórico Nacional.

Insígnias maçônicas: espadim, faixa e malhete. As Lojas Maçônicas foram o centro de grandes discussões políticas durante o Império.
Museu Histórico Nacional.

CONFLITO IGREJA E IMPÉRIO

Apesar de a maior parte da população viver à margem dos preceitos do catolicismo, esta era a religião oficial do estado brasileiro. As atribuições do clero estavam descritas na Constituição de 1824 e o imperador interferia nas questões da Igreja através do padroado e do beneplácito. O padroado permitia ao monarca sugerir nomes para os cargos eclesiásticos mais importantes, só dependendo de uma confirmação do papa. O beneplácito estipulava que todas as bulas pontifícias, mesmo aquelas que tratassem de questões estritamente religiosas, como os rituais litúrgicos, deveriam ser submetidas ao imperador. Elas só teriam validade no Brasil após sua aprovação, o que provocava insatisfação do papado. As relações entre os dois poderes eram tão estreitas que os padres, que recebiam proventos do governo, exerciam atribuições inerentes ao estado, como registros de nascimentos, casamentos e óbitos. Eram quase "funcionários públicos". Esta situação só se alterou com a República.

As relações entre a Igreja e o Império começaram a entrar em crise quando o Frei Vital Maria, bispo de Olinda, decidiu colocar em prática, em 1872, a bula Sylabbus, publicada pelo papa Pio IX oito anos antes. O documento proibia a ligação entre católicos e maçons, amplamente praticada no país, inclusive pelos principais personagens políticos do período. Frei Vital determinou que o clero não celebrasse missa para comemorar a fundação da loja maçônica pernambucana e ordenou às confrarias religiosas que expulsassem seus membros ligados às "sociedades secretas". Como algumas comunidades se recusaram a cumprir as ordens do bispo, foram interditadas. Para agravar a situação, o bispo do Pará, D. Antonio Macedo Costa, imitou as iniciativas de Frei Vital. A reação da Maçonaria foi imediata. Ela recorreu ao Governo imperial, que, através do Conselho de Estado, determinou que Dom Vital revogasse suas proibições, lembrando-o que a bula Sylabbus não havia recebido a aprovação de Dom Pedro e, portanto, não tinha validade no país. O bispo, em uma atitude inédita, retrucou que o poder civil não poderia intervir em assuntos espirituais. Acabou sendo condenado, junto do bispo do Pará, a quatro anos de prisão com trabalhos forçados. A crise ficou conhecida por "Questão Religiosa" e rompeu definitivamente as relações entre o estado e o clero, antiga base de sustentação do sistema monárquico. Apesar dos dois bispos terem sido anistiados em 1875, os padres continuaram a usar o púlpito para criticar a forma de governo vigente.

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O MOVIMENTO REPUBLICANO


A convenção de Itú foi realizada em abril de 1873. Era na província de
São Paulo que os adeptos se encontravam mais bem organizados.
“Convenção de Itú”, J. Barros, Museu Republicano de Itú, SP.

Rangel Pestana, um dos signatários do
Manifesto Republicano de 1870.
Museu Republicano de Itú.

Alinhar ao centro
O MOVIMENTO REPUBLICANO

O Brasil era o único país da América que tinha adotado a forma monárquica de governo em virtude da especificidade do processo de independência. A preservação da unidade territorial foi a justificativa utilizada pelas elites políticas para a eliminação das tendências locais e republicanas na primeira metade do século XIX. O bipartidarismo sofreu o primeiro abalo na década de 1860, com a cisão do Partido Liberal. Os dissidentes formaram o partido liberal radical, pleiteando reformas, como uma maior descentralização, autonomia para as províncias, a extinção do Poder Moderador e a abolição da escravidão. Na medida em que aumentavam as dificuldades na implementação das mudanças, o grupo evoluiu para a formação do Partido Republicano.

Em dezembro de 1870, foi fundado, no Rio de Janeiro, o jornal "A República", dirigido por Quintino Bocaiúva, cujo número inaugural estampava na primeira página o Manifesto Republicano, criticando a centralização política e a monarquia: "A centralização, tal qual existe, representa o despotismo". A república era justificada como inerente à América: "Somos da América e queremos ser americanos". O documento, inicialmente, teve pouca repercussão. Porém, logo depois, começaram a surgir adesões, especialmente de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Diversos clubes e jornais republicanos foram fundados.

Duas tendências se desenvolveram no Partido Republicano. Em São Paulo, os membros fundadores antiescravistas começaram a perder espaço para os cafeicultores, descontentes com a aprovação da Lei do Ventre Livre, em setembro de 1871. Este perfil do Partido Republicano Paulista (PRP) ficou claro na convenção, realizada em Itu, um centro cafeeiro, em abril de 1873. Entre os 133 presentes, 78 eram fazendeiros. Um novo congresso foi convocado para São Paulo, em julho de 1873. Entre os principais dirigentes estavam Campos Sales e Martinho Prado Jr. Os republicanos começaram a disputar cargos eletivos a partir de 1876.

No Rio de Janeiro, predominava o grupo urbano e abolicionista. Silva Jardim defendia uma aproximação com os setores populares através de uma mobilização com comícios e conferências. No entanto, os setores mais humildes da população urbana da Corte viam com desconfiança a atuação dos republicanos, principalmente os antigos escravos, pois o imperador Pedro II e a Princesa Isabel desfrutavam de grande prestígio. Uma conferência de Silva Jardim, em janeiro de 1889, foi alvo de manifestações por uma associação de negros, denominada "Guarda Negra", que se propunha a defender a Princesa Isabel e a monarquia. O grupo temia que a República restabelecesse a escravidão. Quintino Bocaiúva tentava obter apoio com setores do Exército, insatisfeitos com a política monárquica. Os republicanos isolados não tinham força para a derrubada da monarquia. O Exército tornou-se peça importante na preparação do terreno para que eles assumissem o poder.

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O NEGRO APÓS A ABOLIÇÃO


A situação dos negros após a abolição da escravatura não sofreu grande alteração.
Eles não se integraram à sociedade e continuaram vítimas de fortes preconceitos.
Museu Histórico Nacional.

Após a abolição da escravidão, muitos negros continuaram fazendo
o que faziam anteriormente, só que por conta própria. Muitos
preferiram as cidades e tentavam a vida vendendo coisas na rua.



Foto de mulata bem vestida para o trabalho livre e assalariado
em um salão do Rio de Janeiro.

APÓS A ABOLIÇÃO

A situação dos antigos escravos não sofreu alterações, variando de acordo com a região do Brasil. Mas, de uma maneira geral, não houve um processo de integração dos negros à sociedade. Quando muito, conseguiam trabalho em pequenas roças de subsistência ou, então, tornavam-se parceiros nas fazendas de café. Outros abandonavam as antigas propriedades onde eram escravizados, indo para as cidades, formando uma mão-de-obra marginalizada pela concorrência do imigrante. Os negros foram jogados no mundo dos brancos, sem nenhuma assistência.

Algumas propostas reformistas foram feitas pelos abolicionistas, entre os quais Joaquim Nabuco, André Rebouças e José do Patrocínio, visando a melhoria das condições de vida dos antigos escravos. Uma delas defendia a divisão dos latifúndios improdutivos com o objetivo de vender pequenos lotes de terras para os libertos. Outra sugestão era a universalização da educação básica para "arrancar o negro da ignorância". Estas medidas não foram efetivadas.

A inexistência de reformas mais amplas permitiu a exploração do ex-escravo. Na província do Rio de Janeiro, por exemplo, as autoridades policiais obrigavam o liberto a assinar um termo de "bem-viver", pelo qual ele se comprometia a trabalhar. A coação e a violência não eram aplicadas mais pelo chicote, mas sim através de normas que objetivavam acabar com o "ócio" e a "vadiagem". Alguns fazendeiros empregavam o antigo cativo pagando míseros salários.

O Rio de Janeiro, capital do Império, exerceu o papel de pólo de atração para muitos libertos. Porém, o seu mercado de trabalho incipiente não possuía condições de absorver essa mão-de-obra, proporcionando o surgimento de um amplo contingente de desempregados e subempregados, alguns vivendo nas fronteiras da legalidade e ilegalidade. Em função da existência de circunstâncias que não permitiam o exercício pleno da cidadania, proliferaram grupos, como os capoeiras, que vagavam pelas ruas da cidade vivendo de expedientes considerados escusos. Considerado, na época, "malandro", "preguiçoso" e "ladrão", o negro continuou sendo excluído da sociedade branca e europeizada.


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LEI ÁUREA


Por assinar a Lei Áurea, a 13 de maio de 1888,
a Princesa Isabel, então regente, foi chamada "a Redentora".


Missa campal em ação de graças pela Abolição da Escravidão. Ao centro estão a Princesa Isabel e o Conde d’Eu, cercados de personagens do Império.

LEI ÁUREA

A extinção legal da escravidão no Brasil foi efetuada através de uma lei, apresentada pelo Gabinete conservador de João Alfredo. A "Lei Áurea" foi assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888. Dos nove deputados que votaram contra, oito eram representantes da província do Rio de Janeiro, ligados à área cafeeira do Vale do Paraíba. Foram libertos 750.000 escravos que representavam 10% da população negra.

Criou-se toda uma mitificação em torno da assinatura da lei de 13 de maio, ignorando-se os atores anônimos que contribuíram para sua promulgação. Em São Paulo, a ação dos caifazes, grupo de abolicionistas, auxiliou a evasão em massa de escravos das fazendas de café, levando-os ao quilombo do Jabaquara, em Santos. No Rio de Janeiro, no segundo semestre de 1887, acentuaram-se as fugas de cativos dos canaviais campistas ou das propriedades cafeeiras do Vale do Paraíba. Os jornais noticiavam os inúmeros conflitos entre escravos e senhores. Na capital do Império, ocorreram diversas manifestações de rua pela abolição. No Parlamento, os deputados abolicionistas reivindicavam uma solução imediata. Enfim, a sociedade rejeitava a preservação da escravidão.

As manifestações de júbilo pela aprovação da abolição aconteceram em vários locais do país. No Rio de Janeiro, uma multidão aglomerou-se no Paço Imperial e seus arredores, comemorando a assinatura da lei pela Princesa Isabel. As ruas da cidade foram ornamentadas com bandeiras e flores. Nas sacadas dos sobrados, os panos coloridos retrataram a alegria da população. A euforia era natural, pois o ato de acabar legalmente com a escravidão derivou de um longo processo, no qual muitos pereceram. A abolição não foi uma simples concessão do poder ou da magnanimidade da regente do trono, Princesa Isabel, a "Redentora". O fim do escravismo não acarretou desarticulação do processo produtivo porque os setores mais dinâmicos da economia já utilizavam a mão-de-obra livre. Os escravos ficaram "livres" dos grilhões do cativeiro, mas subordinados a novas formas de dominação.

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LEI DOS SEXAGENÁRIOS


José Antônio Saraiva, deputado geral, senador e presidente das províncias do Piauí, Alagoas, São Paulo e Pernambuco.


Fotografia de escravo sexagenário tirada por volta de 1880.
Memorial do Rio Grande do Sul.

LEI DOS SEXAGENÁRIOS

A Lei Saraiva-Cotegipe foi criada a partir de um projeto que começou a tramitar na Câmara ainda durante o Gabinete liberal do Conselheiro Manoel Dantas, em julho de 1884. Entre outras coisas, previa a libertação, sem nenhuma compensação ao proprietário, dos escravos com mais de 60 anos. As reações dos setores escravistas provocaram a substituição do ministério, em maio de 1885, por outro liderado pelo Conselheiro Saraiva, que introduziu modificações substanciais no texto original. Mais conhecida como "Lei dos Sexagenários" foi aprovada em 28 de setembro de 1885, no governo conservador do Barão de Cotegipe. Ela declarou "livres" os escravos com mais de 60 anos. Entretanto, eles deveriam trabalhar mais cinco anos gratuitamente para o senhor a título de indenização. A lei ainda estabelecia penas para quem ajudasse escravos fugitivos.

A reação ao projeto original do Gabinete Dantas relacionou-se à falsificação, feita por muitos senhores, por ocasião do censo de 1872, da idade de seus escravos. Eles declaravam uma idade maior para os seus cativos para aparentar que eles tinham ingressado no país antes de 1831, quando houve a primeira lei acabando com o tráfico negreiro. Esta considerava livre qualquer africano que tivesse entrado no Brasil após aquela data. Assim, muitos escravos novos foram registrados como se tivessem mais de 60 anos; logo teriam direito à "liberdade".

A lei foi aprovada para tentar diminuir as pressões do movimento abolicionista, que já havia conseguido extinguir a escravidão no Ceará e no Amazonas em 1884. Porém, ela acabou desagradando os militantes antiescravistas. Afinal, era uma solução paliativa, pois não eliminava o cativeiro nem prejudicava intensamente os proprietários. Eles ficavam isentos de qualquer responsabilidade no tratamento dos escravos idosos e ainda ganhavam mais cinco anos de trabalho dos cativos.

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LEI DO VENTRE LIVRE


Alegoria representando a Lei do Ventre Livre.
Museu Histórico Nacional.


No ano de 1871, sob o ministério Rio Branco, foi votada a Lei do Ventre Livre, que garantia a liberdade dos negros recém-nascidos.
"Visconde do Rio Branco", Sousa Lobo.

LEI DO VENTRE LIVRE

A "Lei Rio Branco", mais conhecida por "Lei do Ventre Livre" ou dos "nascituros", foi aprovada em 1871 e tratava da emancipação dos filhos de escravos. O projeto, apresentado pelo Gabinete conservador do Visconde de Rio Branco, visava aplacar as reivindicações pela abolição, surgidas após a Guerra do Paraguai. Ela estabelecia que os "ingênuos", como foram denominados os libertos pela lei, ficassem em poder dos senhores de suas mães até os oito anos de idade. A partir dessa idade, os proprietários tinham duas opções. Poderiam utilizar os seus trabalhos até os 21 anos - solução normalmente adotada - ou, então, receber uma indenização, paga pelo governo, através de um fundo de emancipação.

Os defensores do projeto argumentavam que ele era a forma gradual e segura de encaminhamento da abolição, pois não afetaria o direito do senhor na medida em que previa uma indenização. Os seus opositores afirmavam que a lei traria a desorganização e indisciplina na lavoura, acabaria com a "proteção" que os senhores davam aos cativos e que interferiria na propriedade, sendo assim era de inspiração "comunista". Nos debates legislativos observa-se uma divisão entre as províncias. Enquanto as do norte aceitavam o projeto, pois não dependiam tanto do braço escravo em virtude do tráfico interprovincial, as do sudeste, ligadas à lavoura cafeeira, assumiram uma posição intransigente contra o projeto. A lei foi aprovada na Câmara com 61 votos favoráveis e 35 contrários. Destes, 26 eram de deputados das províncias cafeeiras. Muitos deles posteriormente engrossaram as hostes republicanas.

A lei foi, no fundo, uma concessão aos opositores da escravidão e provocou o arrefecimento das suas reivindicações. Poucos foram os escravos libertados pelo Fundo de Emancipação. Os próprios setores escravistas atenuaram, posteriormente, as suas críticas, pois pelos cálculos de Rui Barbosa, a lei só acabaria com a escravidão no Brasil na metade do século XX.

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ESTADO IMPERIAL


Abolicionistas como Joaquim Nabuco eram freqüentemente acusados
e perseguidos por facções conservadoras da sociedade.
Museu Histórico Nacional.


Barão de Cotegipe, político e magistrado, deputado geral
e senador pela província da Bahia.

ESTADO IMPERIAL E O ABOLICIONISMO

Os governantes, durante o Império, trataram com cautela a "questão servil". Muitos dos componentes da estrutura burocrática do Estado eram senhores de escravos. A mudança de comportamento sobre a escravidão iniciou-se especialmente a partir de 1870, em virtude das transformações que estavam se operando na sociedade brasileira, relacionadas à expansão do capitalismo e ao processo de urbanização. Entretanto, os setores mais conservadores resistiram à abolição e o próprio governo adiava uma solução definitiva. Os abolicionistas cumpriram um papel fundamental através de críticas contundentes às medidas paliativas que foram tomadas pelo governo.

Os propagandistas buscaram conservar a campanha abolicionista dentro da lei e da ordem. Mas, independente desta atitude, responsabilizavam através da imprensa, da tribuna parlamentar ou de comícios, o imperador, seus familiares e os membros do governo pela manutenção da escravidão. Apesar da existência formal de censura, ela não agia com extremo rigor em relação aos escritos abolicionistas pelo alto grau de analfabetismo existente no país.

No entanto, os senhores de escravos reagiam à ação dos abolicionistas, muitas vezes respaldados pela omissão das autoridades governamentais. As calúnias e difamações contra os militantes eram usuais. Os defensores do cativeiro os consideravam como elementos que semeavam a "desordem e a rebelião". Em 1884, por exemplo, Joaquim Nabuco e José do Patrocínio foram acusados de "socialistas" e "anarquistas" por jornais conservadores. Em 1886, José do Patrocínio foi ameaçado de processo pela polícia da Corte por proteger escravos fugidos.

Perseguições e ameaças de morte aos propagandistas eram habituais, especialmente no interior. Jornais abolicionistas sofreram empastelamento, como o "Vinte e Cinco de Março", de Campos, na Província do Rio de Janeiro. Em 1887, o governo do Barão de Cotegipe proibiu "ajuntamento em praças e ruas" para evitar comícios dos militantes antiescravistas. No Rio de Janeiro, as manifestações populares se tornaram mais assíduas às vésperas da extinção legal da escravidão. A pressão dos setores urbanos e a resistência negra cada vez mais acentuada alteraram o comportamento do Estado, que se viu compelido a encaminhar as leis abolicionistas.

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REVOLTA DO VINTÉM


Passaporte de um escravo emitido pela polícia da província da Bahia. Memorial do Rio Grande do Sul.


José do Patrocínio, um dos líderes da Revolta do Vintém.
Museu Histórico Nacional.

REVOLTA DO VINTÉM E O ABOLICIONISMO

Em janeiro de 1880, ocorreu no Rio de Janeiro uma reação popular contra uma taxa, criada pelo governo, que incidia sobre o transporte urbano, repassada para o usuário. A "Revolta do Vintém", como ficou conhecida, teve como conseqüência a destruição de bondes, no centro da cidade, e uma repressão policial violenta que resultou em mortos e feridos. Ela marcou profundamente o início da década, pois favoreceu a participação de novos atores no cenário político da Corte e do Império. As discussões políticas, até então restritas ao Parlamento, ganharam as ruas e praças públicas.

Os jornais abolicionistas apoiaram a revolta. José do Patrocínio, redator da "Gazeta de Notícias", um dos líderes, juntamente com outros militantes antiescravistas como Lopes Trovão, proprietário do jornal "O Combate", e Ferreira de Menezes, dono da "Gazeta da Tarde", foram ameaçados de prisão. A importância da "Revolta do Vintém" relaciona-se com a atuação dos abolicionistas do Rio de Janeiro, privilegiando, a partir daquele acontecimento, um público mais engajado, através de passeatas, palestras, conferências e comícios, além de uma imprensa mais atuante. O abolicionismo ganhou as ruas, tornando-se um reflexo também da insatisfação da população da cidade.

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A ATUAÇÃO DOS ABOLICIONISTAS


Carta de André Rebouças, pela Sociedade Brasileira contra a Escravidão, para Sr. Clapp, pedindo ajuda a uma escrava livre.


André Rebouças teve participacão de destaque
no processo abolicionista brasileiro.
Museu Histórico Nacional.

A ATUAÇÃO DOS ABOLICIONISTAS

Os abolicionistas utilizaram diversas estratégias para a eliminação da escravidão. Influenciados pelas idéias européias de progresso e civilização, não perdiam uma oportunidade para denunciar as mazelas do cativeiro. A tribuna parlamentar, as páginas dos jornais, ou as conferências realizadas nos teatros serviam de palco para criticar o que Joaquim Nabuco denominava a "nefanda instituição". Alguns organizavam festas beneficentes e quermesses para angariar a simpatia popular e recursos para alforriar os cativos. Outros, como os alunos e professores da Escola Politécnica do Largo de São Francisco, liderados por André Rebouças, agiam nas vias públicas para convencer os senhores dos "malês" do cativeiro, tentando persuadi-los a libertarem os seus escravos. Também existiam grupos que defendiam a ação direta, incentivando as fugas dos cativos, como os "caifazes" liderados por Antonio Bento, em São Paulo. Em Campos, na província do Rio de Janeiro, diversos incêndios nos canaviais eram atribuídos aos abolicionistas liderados por Carlos Lacerda, intrépido jornalista local. No entanto, essa atuação nas senzalas era duramente criticada pela maioria dos propagandistas, como Joaquim Nabuco.

A questão fundamental girava em torno da manutenção da lei e da ordem. Apesar de agirem de maneira diferente, no fundo eles receavam uma sublevação de escravos. Os velhos "fantasmas" do Haiti e das revoltas baianas estavam presentes no seu imaginário. Repudiavam, de uma maneira geral, as formas violentas que usassem o escravo. Joaquim Nabuco defendia o término da escravidão através da lei e não nas "praças e quilombos". Escreveu, em 1883, "O Abolicionismo", livro que condensa o ideário abolicionista. José do Patrocínio, apesar dos discursos inflamados e a sua célebre afirmação de que a "escravidão era um roubo e todo dono de escravo era um ladrão", opunha-se a uma "ruptura traumática". Em São Paulo, Luís Gama desenvolveu intensa atividade jurídica para libertar cativos até a sua morte, em 1882. Assim, de uma maneira geral, os abolicionistas adotavam uma postura paternalista e reformista em relação à escravidão. Desejavam acabar com os grilhões do cativeiro, mas preservando uma sociedade excludente e hierarquizada.

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A IMPRENSA ABOLICIONISTA


José do Patrocínio foi um dos maiores abolicionistas,
espalhando suas idéias através de seus artigos e escritos.


Folha do Livro de Ouro, onde a Câmara Municipal
passava as cartas de liberdade.

A IMPRENSA ABOLICIONISTA

A intensificação do abolicionismo na década de 1880 não podia ser omitida pela imprensa. Ela noticia assuntos que refletem, de uma forma ou de outra, os interesses dos leitores. Assim, nada mais natural que, no período, o escravo ocupasse os vários espaços dos jornais. Joaquim Nabuco os considerava como os documentos mais importantes para retratar a escravidão, pois a "fotografavam" de uma forma "mais verdadeira do que qualquer pintura".

No início, as adversidades para o desenvolvimento de publicações abolicionistas eram imensas. Todavia, já na primeira metade do século XIX, no Rio de Janeiro, circularam diversos pasquins criticando a escravidão, embora tivessem um alcance limitado e uma tiragem pequena, chegando a 400 ou 500 exemplares. Antes da década de 1880, os militantes antiescravistas não tinham acesso fácil aos jornais de prestígio, pois estes adotavam uma posição cautelosa devido à dependência dos anunciantes, muitos deles senhores de escravos. Apesar da crise do escravismo e da ampliação dos grupos sociais urbanos contrários ao cativeiro, nem todos os jornais aderiram à campanha abolicionista.

A "Gazeta de Notícias", de Ferreira de Araújo, fundada em 1876, foi o pioneiro na cidade do Rio de Janeiro. "O Abolicionista", criado em 1880 pela Sociedade Brasileira contra a Escravidão, tinha como preocupação primordial a "péssima imagem" do Brasil no exterior por causa da escravidão. A "Revista Ilustrada", do imigrante italiano Angelo Agostini, criticava de uma forma satírica, através de charges, o trabalho escravo e seus defensores. Os jornais de José do Patrocínio, a "Gazeta da Tarde", durante toda a década de 1880, e o "Cidade do Rio", a partir do final de 1887, tiveram um papel destacado na campanha abolicionista na capital do Império. Na redação da "Gazeta da Tarde", na Rua Uruguaiana, no centro da cidade, organizou-se, em 1883, a Confederação Abolicionista. Em São Paulo, o jornal "Redenção", criado em 1887 por Antonio Bento, mobilizou os "caifazes", militantes que empreendiam ações radicais como fugas e sublevações de escravos.

Estes jornais publicavam tudo o que pudesse contribuir para o avanço das idéias contrárias ao escravismo: resumos de conferências, datas e locais de eventos destinados à obtenção de fundos para a campanha, alforrias e violências cometidas contra os escravos. Tiveram um papel fundamental na extinção legal da escravidão no Brasil, na medida em que veiculavam a campanha abolicionista.

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A CAMPANHA ABOLICIONISTA


José Bonifácio foi ativo participante da campanha abolicionista.
Museu Paulista.


Joaquim Nabuco, aqui em 1901, foi abolicionista mas defendia a monarquia, querendo que o trono ficasse com a Princesa Isabel.


Anúncio de gratificação por escravos fugidos.
IHGB.

A CAMPANHA ABOLICIONISTA

A campanha abolicionista foi um processo desenvolvido principalmente por setores urbanos, a partir da década de 1870, para a extinção legal da escravidão no Brasil. Os argumentos dos seus opositores assemelhavam-se aos de alguns críticos que escreveram na primeira metade do século XIX. Em 1825, José Bonifácio, por exemplo, considerava o escravismo uma "instituição nefasta", responsável pelo "atraso" existente no país, corruptora da "moral" e dos "costumes" e inibidora do "progresso" e da indústria. No entanto, inexistiam naquele período condições sociais, econômicas e ideológicas favoráveis, tais como a expansão das práticas capitalistas, o desenvolvimento dos centros urbanos, o crescimento da mão-de-obra livre e, conseqüentemente, de segmentos da sociedade que se opunham ao trabalho compulsório, além da difusão das idéias de progresso e civilização. O fim da Guerra do Paraguai, que contou com a participação de cativos, também reforçou o abolicionismo.

As transformações econômicas e sociais internas aliavam-se às pressões internacionais. Após a Guerra de Secessão (1861-1865), nos Estados Unidos, o Brasil era o único país independente que ainda preservava a escravidão. Organizações abolicionistas francesas e inglesas começaram a questionar o governo imperial sobre a manutenção do trabalho escravo. O apelo que a Junta Francesa de Emancipação fez ao imperador, em 1865, em favor dos cativos teve repercussão. Pedro II encaminhou, em 1867, embora timidamente, uma mensagem à Câmara solicitando uma solução para a "questão servil".

O movimento antiescravista cresceu a partir de 1880. Neste ano, um grupo de propagandistas, entre os quais Joaquim Nabuco, criou a Sociedade Brasileira contra a Escravidão, semelhante à sua congênere inglesa. Diversos órgãos abolicionistas surgiram nas províncias; suas reuniões e conferências atraíam um grande número de pessoas. Em 1883, a Confederação Abolicionista, liderada por João Clapp e José do Patrocínio, congregava várias associações. Os debates se intensificaram na Câmara. Joaquim Nabuco e Jerônimo Sodré, entre outros, discursavam constantemente tentando mostrar a inviabilidade de preservação da escravidão. Esses discursos, transcritos nos jornais, tinham maior ressonância na opinião pública, apesar das dificuldades inerentes ao alto grau de analfabetismo.

De uma maneira geral, a campanha abolicionista assumiu uma postura cautelosa em virtude do perfil das lideranças, formadas principalmente pelas elites intelectuais que consideravam o trabalho escravo um entrave para o país alcançar o "progresso" e a "civilização". Elas tinham acesso aos jornais e à tribuna parlamentar. Mas, por outro lado, viam com preocupação o aumento da resistência dos escravos. Assim, a manutenção da "ordem" e da lei norteava o abolicionismo, apesar de alguns militantes antiescravistas, como Antonio Bento, em São Paulo, promoverem fugas de escravos. Estas contribuíram para acelerar o processo da extinção legal da escravidão no Brasil.

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A INFLUÊNCIA EUROPÉIA


Benjamin Constant foi altamente influenciado pelas
idéias do francês Auguste Comte.
Museu Histórico Nacional.

A INFLUÊNCIA DAS IDÉIAS EUROPÉIAS

A partir de 1870, amplos setores da sociedade brasileira,principalmente aqueles que viviam nas cidades, começaram a contestar a escravidão, considerada responsável pelo "atraso" do país frente às demais nações "civilizadas". À medida que o capitalismo se expandia, paralelamente ao crescimento urbano, o escravismo mostrava, de uma forma mais clara, as suas contradições. O aumento da resistência negra contribuía para a busca de uma solução para a denominada "questão servil". Com os olhos voltados para a Europa, escritores, jornalistas, alguns políticos, professores e militares, entre outros, absorviam as idéias que exaltavam o "progresso" como meta a ser atingida pelo homem, através de todo um processo de valorização do trabalho livre.

O requinte da "civilização" européia e o dinamismo de suas realizações, principalmente da França e da Inglaterra, eram adotados como modelos pelos militantes antiescravistas. A idéia de "progresso" tornou-se a meta irreversível das sociedades inspirando várias correntes de pensamento, especialmente na segunda metade do século XIX. A penetração destas idéias entre a intelectualidade brasileira no período é inquestionável, sendo o inglês Herbert Spencer um dos teóricos que mais a influenciaram, assim como o francês Auguste Comte, ideólogo do positivismo. "Progresso", "civilização" e "ciência" eram palavras que estavam presentes nos discursos contra a escravidão. Estes discursos, portanto, adequavam-se às aspirações desta elite intelectual que desejava a implementação de reformas, garantindo a "modernização" da sociedade e associando "progresso" com liberdade, em oposição à escravidão e ao obscurantismo. Entretanto, esse ideário, no Brasil assumiu uma faceta conservadora, em virtude de sua convivência com a secular estrutura escravista.

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CULTURA POPULAR

Festa do Rosário.
Biblioteca Nacional.

CULTURA POPULAR

A população urbana que não pertencia à elite imperial também tinha prazer em escutar música e dançar. A diferença era que, em vez de sofisticadas árias, ouvia-se, nas festas, os "chorões", conjuntos de corda formados principalmente por funcionários públicos. A dança predileta era o maxixe, uma adaptação ousada, com requebros, da polca e da mazurca, importadas pela nobreza. As festas populares, como o Carnaval, promoviam o encontro da elite e do povo nas ruas. As famílias dominantes desfilavam em carros abertos e freqüentavam bailes de máscaras, enquanto as camadas pobres realizavam o entrudo. A brincadeira consistia em jogar lama, água e farinha nos transeuntes. À festas religiosas, como a da Igreja da Penha e da Nossa Senhora do Rosário no Rio de Janeiro, ocorriam também todos os setores da população.
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TEATROS E SALÕES


D. Teresa Cristina e as filhas Isabel e Leopoldina, como toda a elite brasileira, freqüentavam o teatro e as festas nos salões.
Museu Histórico Nacional.


José Tomás Nabuco de Araújo, político, jurista e jornalista.
IHGB in Echo Americano, litogravura de 8-7-1871.

TEATROS E SALÕES

Depois dos concertos líricos, a diversão predileta da elite no Império era ir ao teatro. No palco, predominavam as peças européias encenadas por companhias estrangeiras. Esse panorama só começou a mudar a partir de João Caetano. Ele fundou a primeira companhia teatral nacional e exigiu, em seu primeiro contrato, que só atores brasileiros atuassem. Também modificou algumas técnicas de apresentação, abandonando a rigidez clássica por uma montagem mais livre de textos como Otelo e Hamlet.

Apesar do romantismo ter influenciado os autores brasileiros, sobretudo no aspecto de afirmação nacional, quem mais se destacou foi Martins Pena. Suas obras não exaltavam a grandeza territorial do país e a cordialidade de seus homens, como as românticas. Ele preferia, em suas comédias, geralmente de um único ato, satirizar os costumes do período, inclusive fazendo galhofa da sociedade escravocrata.

Outra forma de lazer da elite era a reunião em salões, ou seja, a promoção de reuniões regulares, em dias fixos da semana, na casa dos mais expressivos membros do Império. Os convidados, depois do jantar, divertiam-se com música de câmara, declamação de poesias, encenação de peças teatrais ou jogos de cartas e dança. Os salões mais concorridos eram o do Marquês de Abrantes, o do conselheiro Nabuco de Araújo e o da princesa Isabel e Conde D'Eu. Reunindo diplomatas, aristocratas, políticos e letrados, os salões eram muito mais que um passatempo para a elite. Neles, eram fechados negócios e discutidas questões políticas do Império.

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MÚSICA E ARTES PLÁSTICAS


Folha de rosto da partitura de "O Guarani" e partitura manuscrita do
"Hino Triunfal a Camões", obras de Antônio Carlos Gomes.
Museu Histórico Nacional.


Fac-símile da página de rosto do primeiro tomo da
Edição Príncipe de Jean Baptiste Debret.


"Floresta brasileira", 1853, de Manuel de Araújo Porto Alegre.

MÚSICA E ARTES PLÁSTICAS

Apesar do sucesso das modinhas no âmbito doméstico, o cenário musical durante o Império foi dominado pelo canto lírico. Apaixonado por ópera, Pedro II não poupou esforços nem dinheiro para tentar transformar o país em um importante centro erudito. Quando Francisco Manuel da Silva resolveu criar o Conservatório Nacional de Música, na década de 1850, para facilitar a educação musical de novatos sem recursos, recebeu apoio financeiro do imperador. Em 1857, foi fundada a Imperial Academia de Música e Ópera Nacional, também com benesses do governo. Os músicos e compositores mais talentosos recebiam uma verba anual para aperfeiçoar seus estudos na Europa. Este foi o caso do compositor Carlos Gomes, o representante mais ilustre da música no período. Depois de fazer sucesso com duas óperas, Carlos Gomes foi estudar em Milão, onde criou "O Guarani", baseado na obra de José de Alencar. Seu maior mérito foi compor em português e utilizar temas nacionais. A partir de 1871, a elite passou a se reunir no Teatro Lírico, onde além de se apreciar árias, discutia-se, nos intervalos, negócios e política.

As artes plásticas no século XIX, no Brasil, foram marcadas pela vinda da Missão Artística Francesa, em 1816, que trouxe artistas expressivos, como o pintor Jean Baptiste Debret, o escultor Auguste Taunay e o arquiteto Grandjean de Montigny. O grupo opunha-se ao estilo rococó do barroco e preferia o neoclassicismo baseado no legado romano. Esta corrente imperou no Brasil por um bom período e garantiu a sua continuidade através da criação, em 1826, da Academia de Belas Artes, planejada pelos mestres franceses. O ensino superior de artes plásticas sofreu sua primeira renovação em 1854, quando Manuel de Araújo Porto Alegre foi nomeado diretor da Academia. Ele incentivou a pesquisa e a arte nacional em vez de cópias da Antiguidade. Os pintores mais conhecidos do período, como Vítor Meireles, reproduziram em seus quadros monumentais cenas históricas.

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LITERATURA NO IMPÉRIO


Castro Alves foi um grande destaque da literatura no período imperial. Devido ao cunho político de sua obra, ficou conhecido como
"Poeta dos Escravos".
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL.

José de Alencar.


Manuscrito de José de Alencar, intitulado "Apontamentos sobre meu Ministério".


"Círculo Vicioso", um dos poemas mais famosos de Machado de Assis.

LITERATURA NO IMPÉRIO

A produção literária brasileira no início do Império inspirou-se no Romantismo, um movimento em voga na Europa que repudiava os modelos estéticos clássicos. No Brasil, esse "romantismo importado" surgiu em 1836 com o lançamento da revista Niterói, fundada em Paris por Gonçalves de Magalhães e alguns colegas. Foi o primeiro manifesto a favor dos novos ideais.

Enquanto na Europa os escritores priorizavam a Idade Média, considerada uma época heróica, os ficcionistas e poetas brasileiros recorreram aos índios como exemplo de um passado digno de ser ressaltado. A idealização dos indígenas teve seu apogeu entre 1840 e 1870 e foi a primeira tentativa de formação de uma temática nacional. Esse movimento ficou conhecido como "Indianismo". Seus maiores expoentes foram o poeta Gonçalves Dias, com o poema "I Juca Pirama", e o romancista José de Alencar, com "Iracema" e "O Guarani".

A preocupação social ganhou espaço entre os poetas românticos a partir da década de 1860. Fagundes Varela foi o primeiro a tratar do tema do negro em "Mauro, o Negro". Em seguida, Castro Alves passou a utilizar a sua verve em favor de causas sociais e políticas. Ficaram famosos seus poemas contra a escravidão negra, como "Navio Negreiro" e "Vozes d'África".

A novidade na ficção foram os romances folhetinescos, uma mistura de digressões ao relato dos acontecimentos, além de humor e crítica social. Joaquim Manuel de Macedo foi, com a "Moreninha", um dos primeiros a conquistar o público com este novo gênero. Mas foi Manuel Antonio de Almeida, em "Memórias de um Sargento de Milícias", quem verdadeiramente deu ao romance um conteúdo social.

Na fase final do Segundo Reinado, os romances folhetinescos ganharam a concorrência das obras regionalistas, que, ao contrário das indianistas, com forte sentido integrador, procuravam acentuar as particularidades de cada região. Os autores mais importantes deste estilo foram Domingos Olímpio, com "Luzia Homem" e Manuel de Oliveira Paiva, com "Dona Guidinha do Poço".

Nas últimas décadas do século XIX, o Realismo suplantou o Romantismo na Europa. Esse movimento, vinculado à ascensão e enraizamento da burguesia no topo econômico, pregava, em vez do sentimentalismo romântico, a denúncia das mazelas cotidianas. A renovação foi sentida no Brasil, onde muitos autores enveredaram pelo Naturalismo, uma facção ainda mais radical do realismo, cujo preceito era que a literatura deveria retratar cruamente a realidade social. Aluizio Azevedo foi um dos que melhor sintetizou o gênero em "O Mulato" e "O Cortiço".

Apesar de tantas mudanças, o escritor mais importante do período foi justamente aquele que recorria a algumas técnicas narrativas do passado e ironizava as novidades literárias: Machado de Assis. Este mulato, funcionário público, retratou de forma irônica e mordaz, sempre elegante, a situação social da época, o declínio de valores. Em seus contos, crônicas e romances, pululam personagens sem caráter, golpistas de várias estirpes, além de um assombramento moral pela mudança dos tempos.

Na poesia, a reação contra o Romantismo foi o Parnasianismo, nome do movimento francês, logo copiado pelos poetas brasileiros, que cultuava a forma em vez do conteúdo. Foi o fim da espontaneidade na criação. Para elaborar um soneto, eram necessárias "rimas ricas", "fechos de ouro". É claro que tanto rigor métrico provocou um afastamento dos temas sociais. Olavo Bilac e Alberto de Oliveira, principais ícones do Parnasianismo, falavam principalmente de temas clássicos gregos.

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GUERRA DO PARAGUAI


O aprisionamento do vapor brasileiro Marquês de Olinda pelos paraguaios, em novembro de 1864, foi o primeiro ato direto do ditador Solano López contra o Império.


Mapa da guerra contra Aguirre e o Paraguai.


Formatura e partida da primeira brigada mineira destinada à defesa do Mato Grosso e à invasão do norte da República do Paraguai. A tropa constituiu o núcleo principal do contingente que participou da " retirada de Laguna", ocorrida de fevereiro a maio de 1867.
IHGB.


Mapa da Guerra do Paraguai.


Mapa da Guerra do Paraguai: a Dezembrada e a Campanha das Cordilheiras


A Batalha Naval do Riachuelo, travada a 11 de junho de 1865,
modificou o curso da Guerra do Paraguai.
Museu Histórico Nacional.


Palácio do presidente Francisco Solano Lópes em Assunção, Paraguai,
ocupado pelo exército brasileiro.
IHGB.


Conde D’Eu e Visconde do Rio Branco, em 1869, com os oficiais militares
durante a Guerra do Paraguai, onde, ao final, o Conde d’Eu foi nomeado
comandante em chefe, após o adoecimento de Duque de Caxias.
IHGB

GUERRA DO PARAGUAI

A Guerra do Paraguai foi um dos conflitos mais sangrentos envolvendo países da América do Sul.Teve uma duração de mais de cinco anos (de novembro de 1864 até março de 1870) com a participação de Brasil, Argentina e Uruguai, que formaram a "Tríplice Aliança", contra o Paraguai, governado por Francisco Solano Lopez. Diversas causas são apresentadas para justificar o início do conflito. No entanto, deve-se destacar os interesses na livre navegação da bacia platina e do capital inglês na região.

Com a ascensão de Bartolomeu Mitre em Buenos Aires, em 1862, houve uma maior aproximação entre o Brasil e a Argentina. A intervenção brasileira no Uruguai, em 1864, para garantir os interesses dos estancieiros gaúchos, teve o apoio argentino e a oposição de Solano Lopez, que considerava a aliança entre os dois países uma ameaça à integridade do Paraguai. Paralelamente, Lopez tentou uma articulação com as elites locais das províncias de Corrientes e Entre-Rios contra o governo de Buenos Aires, para conseguir o acesso ao estuário do Prata. Também existiam divergências fronteiriças entre o Império e o governo paraguaio.

As hostilidades entre os dois países começaram em 14 de novembro de 1864. Sob o pretexto de que o Brasil, ao invadir Montevidéu, rompeu o tratado que reconhecia a independência do Uruguai, Solano Lopez apresou no rio Paraguai o navio Marquês de Olinda, que conduzia o coronel Carneiro de Campos, recém-nomeado presidente da província de Mato Grosso. Em dezembro, as tropas paraguaias invadiram o Mato Grosso, ocupando Corumbá, e no início de 1865, penetraram na província argentina de Corrientes, para alcançar o Rio Grande do Sul e o Uruguai.

Brasil, Argentina e Uruguai formalizaram o Tratado da Tríplice Aliança em maio de 1865. O presidente argentino Bartolomeu Mitre assumiu o comando das forças aliadas. Em junho de 1865, a esquadra aliada, comandada pelo Almirante Barroso, destruiu a força naval paraguaia na Batalha do Riachuelo. As forças terrestres de Lopez começaram a sofrer uma série de derrotas, iniciando-se o recuo paraguaio. A partir de 1866, a guerra se desenvolveu basicamente em território do Paraguai. A conquista de Assunção, em 1869, e a Campanha das Cordilheiras, sob o comando de Conde d’Eu, com a morte de Solano Lopez em março de 1870, assinalaram o término do conflito.

A guerra do Paraguai ocasionou várias conseqüências. O Paraguai foi arrasado, perdendo parte de seu território para o Brasil e a Argentina. Metade de sua população morreu no conflito. A maioria dos sobreviventes era constituída de velhos, mulheres e crianças. A Argentina consolidou sua unidade territorial. O Brasil perdeu boa parte de suas reservas acumuladas com a exportação. O Exército, até então desprestigiado, afirmou-se como instituição. Parte de seu contingente era formado por antigos escravos que se tornaram livres após o conflito, aumentando o sentimento antiescravista.

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O PARAGUAI ANTES DA GUERRA


Francisco Solano López, 3º presidente da República do Paraguai.
IHGB.

O PARAGUAI ANTES DA GUERRA

Com o desmantelamento do antigo Vice-Reino do Rio da Prata, o Paraguai tornou-se independente em 1811. No entanto, as elites de Buenos Aires não reconheceram a independência, bloqueando o comércio exterior paraguaio através da bacia do Prata, única via de acesso do Paraguai ao mar, através dos rios Paraguai e Paraná. Iniciou-se um processo de isolamento do Paraguai, com a ditadura de José Gaspar de Francia (1813 - 1840). Ele expropriou terras do clero e de seus opositores, entregando-as através de arrendamento aos camponeses, e incentivou o nacionalismo entre os setores humildes da população. Erradicou o analfabetismo do Paraguai, estabelecendo a gratuidade e obrigatoriedade do ensino primário.

Após a morte de Francia, ascendeu ao poder Carlos Antônio Lopez (1840 - 1862), dando continuidade ao processo de fortalecimento econômico do país, iniciado por seu antecessor. Lopez estabeleceu relações com o Brasil para fazer frente às ameaças de ingerência da Argentina, então governada por Rosas, ao seu país. Ele retirou o Paraguai do isolamento enviando missões à Europa, uma delas com a participação de seu filho, Francisco Solano Lopez, para a obtenção do reconhecimento internacional. Atraiu técnicos estrangeiros para os projetos de modernização do país. Instalou ferrovias, construiu estaleiros, fundição de ferro, indústrias bélicas, metalúrgicas, têxteis e de calçados, inaugurou o sistema telegráfico e ampliou a marinha.

Francisco Solano Lopez assumiu o governo do Paraguai em 1862, no auge do crescimento econômico e social. As exportações paraguaias superavam as importações em virtude de uma forte política protecionista. No entanto, havia uma enorme dependência de sua economia dos portos de Buenos Aires e Montevidéu, os quais cobravam altas taxas dos produtos paraguaios. Assim, a saída para o mar tornava-se imprescindível para a continuidade do processo de modernização do Paraguai.

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INTERVENÇÕES DO IMPÉRIO


Guerra da Cisplatina.
Museu Histórico Nacional.

Guerra contra as Províncias Unidas do Rio da Prata.
Atlas Histórico Escolar, MEC.

Guerra de Oribe e de Rosas.


O ditador argentino Juan Manuel Rosas tentou restabelecer o Vice-Reino do Prata, incluindo o Paraguai e o Uruguai, mas teve suas pretensões combatidas pelo governo imperial.


A 3 de fevereiro de 1852, diante do povoado de Monte Caseros e da Quinta dos
Santos Lugares, travou-se a batalha que pôs fim à guerra contra o ditador Rosas.
As forças rosistas foram derrotadas pelo exército aliado, formado por tropas
brasileiras e uruguaias e por seguidores do General Urquiza.

INTERVENÇÕES DO IMPÉRIO NO PRATA

Durante o século XIX, o Brasil teve relações conflituosas com os países vizinhos, em especial com aqueles da área platina. A única monarquia sul- americana era vista com desconfiança pela Argentina, Paraguai e Uruguai, repúblicas formadas após o desmembramento do antigo Vice-Reino do Prata. O confronto de interesses, herança do colonialismo espanhol e português na região, girava em torno do controle na navegação da bacia do Prata.

O Uruguai tornou-se independente do Brasil, em 1828, após uma guerra de três anos entre o Império e a Argentina. A Inglaterra, em função dos seus interesses econômicos na região, garantiu a criação do Uruguai, pois permitiria a livre navegação no estuário platino. Depois da independência, organizaram-se dois partidos: blancos e colorados, apoiados respectivamente pela Argentina e Brasil. Este envolvimento dos dois países na política interna do Uruguai vinculava-se diretamente ao expansionismo na bacia do Prata. O Império brasileiro exercia uma forte influência econômica no país através do Banco Mauá, assim como lutava para a preservação da liberdade de acesso, através dos rios, à província do Mato Grosso. Ainda havia as questões dos charqueadores gaúchos, que sofriam a concorrência do produto platino.

A ascensão de Juan Rosas ao poder na Argentina, em 1835, e suas ações para consolidar a hegemonia de Buenos Aires sobre as demais províncias, desencadeou reações por parte do Brasil, da Inglaterra e da França. O governo imperial apoiava as forças contrárias a Rosas e também os grupos políticos uruguaios receosos de um expansionismo argentino. Após um longo período de tensão e conflitos fronteiriços envolvendo brasileiros, argentinos e uruguaios, o Império estabeleceu uma aliança com os colorados uruguaios e opositores de Rosas das províncias argentinas de Corrientes e Entre-Rios. Era a forma de derrubar o governo Rosas, que poderia dificultar a navegação no Prata caso incorporasse o Uruguai, além de prejudicar os interesses de Mauá e dos seus sócios ingleses. Na retaguarda brasileira estava a Inglaterra. Em 1851, as tropas aliadas garantiram a ascensão do colorado Urquiza ao governo uruguaio. No ano seguinte, forças brasileiras e uruguaias, armadas pela Inglaterra, derrotaram Rosas, afastando do Prata, pelo menos temporariamente, os grupos contrários ao governo imperial brasileiro.

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