O vice-almirante Wandenkolk assinou o manifesto que exigia de
Floriano Peixoto a convocação de novas eleições presidenciais.
Museu Republicano de Itú.

O MANIFESTO DOS GENERAIS


Carta manifesto dos treze generais (31/3/1892)

Caindo Deodoro, as oligarquias estaduais optam pela legalidade. Floriano nomeia Ministério independente dos grupos que o levaram ao poder. Convoca novamente o Congresso e anula alguns atos do período ditatorial de Lucena. Cerceia a ação de certos grupos sociais favoráveis ao governo anterior cortando as facilidades de emissão que os favoreciam, e derruba todos os governadores estaduais que foram favoráveis ao golpe.

Os partidários de Deodoro reclamam sua volta. No Congresso, sua representação é frágil. Logo estoura o motim a bordo do cruzador "1º de Março" (13/12/1891); depois é a revolta da Fortaleza de Santa Cruz (19/1/1892), a do Sargento Silvino; em São Paulo, Pereira Barreto tenta derrubar o governador Cerqueira César.

A esta fase golpista segue-se a parlamentar: a oposição levanta a questão da constitucionalidade do governo. Campos Sales tenta convencer o Contra-Almirante Wandenkolk a aceitar o mandato de Floriano até o fim do período (1894), o que ele recusa embora não deseje participar da conspiração armada (fevereiro e março/1892). A pressão a favor de eleições presidenciais aumenta paralelamente ao de preparo da revolução por civis e alguns elementos do exército. A crise avoluma-se e certos atos precipitados anunciam o golpe: no dia 6 de abril, 13 generais lançam um ultimato a Floriano, e já no dia 10 estala a rebelião nas ruas. O Congresso imediatamente decreta o estado de sítio e abafa a tentativa de retorno de Deodoro.

Exmo. Sr. Marechal Vice-Presidente da República.

Os abaixo assinados, oficiais generais do Exército e da Armada, não querendo, pelo silêncio, coparticipar da responsabilidade moral da atual desorganização em que se acham os Estados, devido à indébita intervenção da força armada nas deposições dos respectivos governadores, dando em resultado a morte de inúmeros cidadãos, implantando o terror, a dúvida e o luto no seio das famílias, apelam para vós, Marechal, para que façais cessar tão lamentável situação.

A continuar por muito tempo semelhante estado de desorganização geral do país, será convertida a obra de 15 de novembro de 1889 na mais completa anarquia. E os abaixo assinados, crentes como estão, que só com a eleição do Presidente da República, feita quanto antes, como determina a Constituição Federal e a Lei Eleitoral, porém, livremente, sem pressão da força armada, se poderá restabelecer prontamente a confiança, o sossego e a tranqüilidade da família brasileira, e bem assim o conceito da República no exterior, hoje tão abalados, esperam e contam que, neste sentido, dareis as vossas acertadas ordens, e que não vacilareis em reunir este importante serviço cívico aos muitos que nos campos de batalha já prestastes a esta Pátria.

Capital Federal, 31 de março de 1892. Marechal José de Almeida Barreto, Vice-almirante Eduardo Wandenkolk, General de Divisão José C. de Queiroz, General de Divisão Antônio Maria Coelho, General de Divisão Cândido José da Costa, Contra-Almirante José Marques Guimarães, General de Brigada João Nepomuceno de Medeiros Malet, Contra-Almirante Dionísio Manhães Barreto, General de Brigada Dr. João Severiano da Fonseca, Contra-Almirante Manuel Ricardo da Cunha Coutom, General de Brigada João José de Bruce, General de Brigada José Cerqueira de Aguiar Lima, General de Brigada João Luiz de Andrade Vasconcelos.

Fonte: CARONE, Edgard, A Primeira República (1889-1930), 1969, DIFEL, São Paulo, pp. 25 a 26. Consultar igualmente Salm de Miranda, Floriano, pp. 202-203.

A inquietação nas forças armadas era causada por vários fatores: problemas próprios do Exército e da Marinha, rivalidade entre as duas armas, lutas políticas do período que mobilizavam os militares e ambições presidenciais de alguns dos seus oficiais.

Em abril de 1892, treze generais reagiram à disputa pelo poder, ao clima de agitação e à ameaça de movimentos armados. No dia 6, encaminharam um manifesto sugerindo a idéia de renúncia do presidente e realização de novas eleições, como meio de restaurar a paz. À sua frente estava o Vice-Almirante Wandelkolk. Protestavam contra a intervenção ilegal e violenta das forças armadas na deposição dos governadores estaduais. Temiam que isso desgastasse o conceito do país no exterior e que a república se convertesse em anarquia.

Os generais foram demitidos, reformados e expulsos do Clube Militar. A oposição revidou com uma homenagem popular ao Marechal Deodoro, que se transformou em manifestação contra a ditadura. Foram decretados estado de sítio e suspensão das garantias constitucionais. No dia seguinte, o governo desterrou e aprisionou em fortalezas um grande número de militares, jornalistas, literatos e congressistas amparados pela imunidade parlamentar. O Supremo Tribunal Federal negou o pedido de habeas corpus pedido por Rui Barbosa.

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