INTERVENÇÃO E A REVOLTA DA ARMADA


Pintura da baía da Guanabara, palco de eventos político-militares.
"Revolta de 6 de setembro de 1893", de Luís C. Peixoto.


A Revolta da Armada.
Museu Histórico Nacional.

A Revolta da Armada eclodiu em 1893 e atingiu a reputação
brasileira perante os países estrangeiros.
Museu Histórico Nacional.

INTERVENÇÃO ESTRANGEIRA E A REVOLTA DA ARMADA

A rebelião da Armada provocou incidentes diplomáticos e ajudou a arranhar a imagem de estabilidade conquistada durante o Império. O Rio de Janeiro concentrava grande parte dos interesses estrangeiros e navios de várias bandeiras estavam atracados na baía de Guanabara. O resultado foi a intervenção das forças navais européias e norte-americanas com o intuito de evitar o bombardeio da cidade e garantir o livre comércio e a segurança de seus cidadãos.

À princípio os comandantes e os diplomatas mantiveram-se neutros, suspeitando das tendências militaristas de Floriano. Depois do bombardeio à cidade, ameaçaram desembarcar tropas. Esta atitude foi rechaçada por ambos os lados. Em 5 de outubro impuseram um acordo aos contendores, declarando o Rio de Janeiro cidade aberta e assumindo a fiscalização. Custódio de Mello se comprometeu a não bombardear a cidade e o governo a não provocar os rebeldes. Esta atitude levou a uma imobilidade que acabaria por prejudicar a revolta.

A posição dos Estados Unidos beneficiou a reação governista. A suspeita de restauração monárquica e de intervenção européia levou os norte-americanos a vender armamentos e navios ao governo, a ordenar aos seus comandantes que protegessem o desembarque de mercadorias e a ameaçar com o bombardeio da esquadra brasileira. Isto significou o rompimento do bloqueio e permitiu o fortalecimento das defesas nos morros e nas praias. A esquadra rebelde ficou isolada, sem armamentos e atacada pelas doenças.

O asilo concedido aos revoltosos pelo comandante Augusto de Castilho provocou incidentes com Portugal. Floriano exigia a entrega dos refugiados e, ante a negativa, chegou a apelar para a Inglaterra, que se recusou a intervir. As corvetas portuguesas zarparam para o Rio da Prata e Floriano Peixoto decidiu romper as relações entre os dois países.

"Manifesto de Saldanha da Gama: o monarquismo (7/12/1893)

Com a entrada de Saldanha na revolta da Armada findava-se seu primeiro período (6/9 a 9/12/1893). Este tempo fora de lutas e instabilidade para Floriano: a maior parte da esquadra revoltara-se; no Rio Grande do Sul continuava a guerra civil; Desterro estava nas mãos de revoltosos. Mas, civis e militares estavam do seu lado; o auxílio de Bernardino de Campos é essencial; grande o recrutamento de batalhões acadêmicos; parte da população do Rio era jacobinista; o exército não desertara e nem se dividira. E a presença de esquadra estrangeira (alemã, inglesa, francesa, americana e portuguesa) o ajuda, indiretamente. Em Pernambuco e outros Estados, as tentativas de revolta fracassam.

A participação de Saldanha representa o declínio da revolta na baía da Guanabara. Porém, ela significa também tendência de restauração monárquica.

Aos meus concidadãos.

Avesso por princípio e por instinto a toda a idéia de revolta, jamais entrei em conluios de qualquer espécie.

Hoje, porém, no doloroso momento histórico que atravessa a pátria brasileira e o próprio Governo são as mesmas circunstâncias do país que me impelem para a luta.

Aceitando esta situação, que me é imposta pelo patriotismo, reuno-me sem prévios conchavos, em pleno dia e pesando a responsabilidade que tomo, aos meus irmãos, que há um ano nas campinas do Rio Grande do Sul e há três meses na baía desta capital, pugnam valorosamente pela libertação da pátria brasileira do militarismo agravado pela contubérnia do sectarismo e do mais infrene jacobinismo.

Oficial da Armada, vou combater com a espada o militarismo, que sempre condenei toda minha vida. Brasileiro, é meu interesse concorrer com os meus esforços para pôr termo a este terrível período em que lançaram a pátria na anarquia, no descrédito, na asfixia de todas as suas liberdades.

A lógica assim como a justiça dos fatos autorizaria que se procurasse à força das armas repor o governo do Brasil onde estava a 15 de novembro de 1889, quando num momento de surpresa e estupefação nacional ele foi conquistado por uma sedição militar, de que o atual governo não é senão uma continuação.

O respeito, porém, que se deve à vontade nacional livremente manifestada aconselha que ela mesma escolha solenemente e sob sua responsabilidade a forma de instituições sob que deseja envolver os seus gloriosos destinos.

Ofereço a minha vida com a de meus companheiros de luta em holocausto no altar da pátria.

O exército, que se está debatendo com a sua proverbial bravura, não pôde mais persistir na defesa de um governo que perdeu o apoio moral da Nação e o crédito no estrangeiro. A sua obstinação nesse papel inglório ainda quando bem sucedida acabaria por transformá-lo de força nacional que é numa hoste pretoriano de baixa República.

O brado de nossa redenção política levantado nas fronteiras meridionais e que perpassou por Santa Catarina, Paraná, e S.Paulo até esta capital, já ecoou no extremo Norte.

Brasileiros, para apressar a vitória que é certa cumpre que lhe ponhais o selo, trazendo à luta o concurso de nossa influência moral. já é notório que a causa nacional em cuja defesa armada vou entrar, tem por si o apoio de todas as classes conservadoras da sociedade brasileira, daqueles que trabalham e produzem e que, aliás, relutam às sedições, motins e desordens.

Espero poder cumprir o meu dever de brasileiro até ao sacrifício. Cumpri o vosso!"

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Luiz Felipe de Saldanha da Gama, Contra-Almirante da Armada nacional. - Ilha das Cobras, 7 de dezembro de 1893.


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