O POVO ASSISTIU BESTIALIZADO

Deodoro da Fonseca foi escolhido chefe do governo provisório
e, mais tarde, presidente da República.
“Deodoro”, Décio Villares, Museu da República da República, RJ.

O POVO ASSISTIU BESTIALIZADO

O estabelecimento da República no Brasil não teve uma participação popular. Não foi à toa que Aristides Lobo, Ministro do Interior do primeiro governo republicano do Marechal Deodoro da Fonseca, cunhou a frase "o povo assistiu bestializado" para retratar o fato. No mesmo documento, uma carta publicada no dia 18 de novembro de 1889 no jornal paulista "Diário Popular", Lobo afirmou que o envolvimento civil foi quase nulo e que o povo julgou tratar-se de uma "parada militar".

Existiam dúvidas a respeito do encaminhamento do golpe militar. A conspiração que derrubou a monarquia não foi preparada de maneira hábil e cuidadosa. Ficou restrita a conversas entre poucos que tinham receios sobre o rumo dos acontecimentos. Só no dia 11 de novembro, Benjamim Constant convidou para participar das conversações secretas conspirativas os civis Rui Barbosa, deputado e jornalista, Aristides Lobo e Quintino Bocaiúva, as maiores lideranças republicanas do Rio de Janeiro, e Francisco Glicério, proeminente chefe do Partido Republicano Paulista. Deodoro da Fonseca estava acamado e sempre foi monarquista e amigo do imperador.

A derrubada da monarquia foi produto das suas próprias dificuldades em lidar com as mudanças econômico-sociais ligadas à crise do escravismo e o início de relações capitalistas. Outras adversidades eram: a falta de apoio de parte das elites fundiárias, que se sentiram traídas pela abolição; as críticas da imprensa republicana e de uma parcela da intelectualidade urbana, além das chamadas "questões" "religiosa" e "militar", especialmente os conflitos envolvendo militares.

Este quadro não era percebido pelo homem comum no Brasil do final do século XIX. Quando a monarquia foi derrubada, o imperador e a Princesa Isabel gozavam de imenso prestígio junto à população mais humilde, principalmente entre os ex-escravos da cidade do Rio de Janeiro. Assim, nada mais natural que no dia 22 de novembro de 1889, na Rua do Ouvidor, no centro da capital, um grupo de negros e mulatos gritassem "viva à monarquia e morte aos republicanos". Essas manifestações provocaram uma repressão, no Rio de Janeiro, contra os "vadios" e as "classes perigosas", em especial os capoeiras no início da República. Em dezembro de 1889, muitos foram exilados para Fernando de Noronha. A "República", no seu sentido etimológico como "coisa pública", não estava presente na cabeça da maioria dos conspiradores. Estes receavam uma participação popular. O lema positivista "Ordem e Progresso" caracteriza a permanência de uma sociedade excludente e hierarquizada.

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