CABANAGEM













CABANAGEM

A política repressiva do governador do Pará, Lobo de Sousa, nomeado pelo poder central, aumentou a insatisfação dos segmentos mais pobres da população de Belém e provocou a Cabanagem, uma das revoltas mais radicais do período regencial. O descontentamento com a política do poder central facilitou a formação de lideranças populares, como os irmãos Vinagre e o seringueiro Eduardo Angelim, que mobilizaram as camadas marginalizadas. Apesar das primeiras manifestações contra Lobo de Sousa terem ocorrido em 1833, os cabanos, como eram chamados os revoltosos em virtude de habitarem casebres às margens dos rios, só conquistaram Belém dois anos depois. Eles tomaram o poder, já que o governador foi morto durante o ataque. As tropas enviadas pela Regência não conseguiram reprimi-los imediatamente. Muitos deles se enfurnaram no interior para organizar a resistência. A derrota da Cabanagem, em 1836, e a "pacificação" de toda a província, no ano seguinte, deixaram um saldo de 40.000 mortos devido a incêndios, destruições e ao massacre de populações inteiras das aldeias amazônicas, pelas forças governamentais.

A Cabanagem teve uma participação expressiva de setores humildes da população paraense, composta principalmente por caboclos, indígenas e escravos negros, concentrados nos arredores de Belém. Não foi a primeira vez que a arraia-miúda - hostil aos portugueses, acusados de exploradores -, teve uma atuação significativa no processo de emancipação política. A independência do Pará se concretizou, em 1823, no meio de uma série de agitações dos segmentos pobres e das tropas, continuando durante o primeiro reinado. Todos os levantes foram reprimidos violentamente pelas forças a serviço de Pedro I. A situação se agravou com a abdicação do imperador, em 1831. Os comerciantes lusos apoiavam uma política centralizadora, enquanto os senhores de terra, apesar de numericamente inexpressivos, pleiteavam uma maior autonomia para as províncias. Quem externou o descontentamento geral, no entanto, foram, mais tarde, os cabanos.

A província do Grão-Pará, na época da Cabanagem, compreendia o atual Pará e a comarca do Rio Negro, onde hoje situa-se o Amazonas. Até a independência, a região mantinha poucos contatos com o Rio de Janeiro e relações estreitas com Lisboa. As atividades econômicas baseavam-se no extrativismo dos produtos da floresta amazônica e uma pequena produção de tabaco, cacau, algodão e arroz. A exploração da borracha, no início do século XIX, ainda era insignificante. O comércio, feito através do principal porto exportador, em Belém, era monopolizado por portugueses e alguns ingleses.


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