INGLATERRA E O TRÁFICO DE ESCRAVOS

D. João VI assinou o Tratado de Comércio, Navegação,
Aliança e Amizade com a Inglaterra.
Museu Histórico Nacional.


Pedro I foi imperador do Brasil de 12 de outubro de 1822
a 7 de abril de 1831.
J. B. Debret.

INGLATERRA E O TRÁFICO DE ESCRAVOS

A Inglaterra teve altos lucros com o tráfico negreiro até o final do século XVIII. Com a Revolução Industrial, os interesses econômicos ingleses dirigiram-se para a ampliação de mercados consumidores das suas manufaturas. A burguesia, ligada às atividades industriais, desejava que os produtos coloniais fossem vendidos na Grã-Bretanha a preços reduzidos porque poderiam pagar salários mais baixos. Assim, o governo britânico acabou com o tráfico para as suas colônias, em 1807, e extinguiu a escravidão em suas possessões, em 1833. Estas decisões abalaram os plantadores das Antilhas inglesas. Uma forma de compensação foi a campanha contra o comércio negreiro, em escala mundial, que redundaria também na liberação de capitais para o setor comercial, favorecendo a burguesia britânica.

As pressões inglesas contra o comércio de escravos marcaram a primeira metade do século XIX. Em 1810, a Inglaterra obteve de D. João VI a assinatura do Tratado de Comércio e Navegação e Aliança e Amizade. Em um dos ítens do tratado, o governo português se comprometia a restringir o tráfico a suas colônias africanas. Durante o Congresso de Viena, realizado em 1815, a Grã-Bretanha conseguiu a proibição do comércio negreiro ao norte do Equador. D. João VI permitiu, em 1817, que a marinha britânica vistoriasse qualquer navio negreiro em alto-mar, suspeito de adquirir escravos em áreas africanas não-portuguesas. Assim, a Inglaterra tinha o direito de apresar qualquer embarcação, utilizando a justificativa de fiscalização dos acordos diplomáticos. A ratificação do reconhecimento da Independência do Brasil, em 1827, só foi efetuada quando D.Pedro I comprometeu-se a acabar com o tráfico dentro de três anos. A lei de 7 de novembro de 1831, da Regência Trina Permanente, proibiu a importação de escravos para o Brasil e estabeleceu severas penas para os traficantes. No entanto, a lei não foi cumprida por causa da atuação dos proprietários de terras que controlavam os júris locais. Uma "lei para inglês ver", que caracteriza o descumprimento da legislação no Brasil.

Africanos transportados pelo tráfico transatlântico, segundo a nacionalidade do navio - período do Século XVI ao Século XIX

Nacionalidade do navio

Africanos transportados

(em milhares)

Partiram da África

Chegaram às Américas

Total

11.348,8

9.682,6

Inglaterra

3.536,2

3.009,4

América Inglesa/EUA

220,6

205,5

Caribe Inglês

59,4

51,3

Portugal/Brasil

4.942,2

4.335,8

França

1.456,6

1.127,8

Holanda

533,5

449,5

Espanha

513,3

429,6

Dinamarca

82,0

69,7

Outras

5,0

4,0

Fonte: Eltis, David; Behrendt, Stephen; Richardson, David. "O volume do tráfico transatlântico de escravos: uma reavaliação com particular à contribuição portuguesa/brasileira". Afro-Ásia, v. 24, 2000. No prelo.

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