ENDIVIDAMENTO COM A ESCRAVIDÃO


O recibo de venda de um escravo em 1854.
Museu Histórico Nacional.

ENDIVIDAMENTO DO SENHOR COM A ESCRAVIDÃO

Os recursos aplicados na preservação da estrutura escravista eram elevados, pois, além do capital ficar imobilizado no ato da aquisição do cativo, ficava, também, sujeito aos riscos inerentes à própria escravidão. Na realidade, o proprietário se desfazia de uma parte de seu capital porque despendia recursos antes do desenvolvimento do processo de produção, havendo, assim, um adiantamento do pagamento da mão-de-obra, que precedia a obtenção de qualquer produto decorrente do trabalho escravo.

Além da imobilização do capital, o controle da mão-de-obra provocava um aumento considerável de despesas. Nas fazendas de café, por exemplo, havia um feitor para cada grupo de 25 ou 30 escravos, existindo mais dois para as atividades do beneficiamento. Metade dos componentes da propriedade, incluindo os cativos, não trabalhava na lavoura do café propriamente dita: dez por cento ocupavam o terreiro e o engenho, mais dez por cento ficavam nos diferentes ofícios (pedreiros, carpinteiros, ferreiros) e mais dez por cento trabalhavam como catadores de café, além do pessoal doméstico, como criados da casa.

Um outro fator de desperdício resultava do grande número de escravos empregados em atividades de caráter doméstico. Um contemporâneo, Charles Ribeyroles, observava que a opulenta fazenda brasileira tinha seus pajens, copeiros, estribeiros, cozinheiros, criados para homens e senhoras, que constituíam o "pessoal inativo". Logo, esse número elevado, que não participava da atividade principal, onerava violentamente a lavoura cafeeira.

Quando o escravo não estava trabalhando no produto principal, o café, e sim em uma atividade acessória, constituía-se em um desperdício de capital. A elevação dos custos agravou-se após a paralisação do tráfico negreiro com as dificuldades encontradas na aquisição de mão-de-obra que se tornou "cara e rara", contribuindo sobremaneira para a derrocada do escravismo.

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